"Cada coisa tem sua hora
e cada hora o seu cuidado."
Raquel de Queiroz.
Friday, April 08, 2011
Saturday, March 26, 2011
Solar.
Descrença, descontentamento, desolação... Sente-se tomado por uma porção de des.
Até encontrar, meio esquecido entre outros tantos, um des para mandá-los todos embora. Despedida.
Junto com ele vem um des meio triste, mas muito bonito. Desilusão. Que é um clarão abrindo espaços para a realidade.
Ai percebe que o desconforto, que é um comichão chato, pode ser melhorado mudando de posição. Fica descalço.
Descobre que quer voltar a caminhar, e segue buscando caminhos desimpedidos.
Rumo ao desconhecido.
"Para desentristecer, leãozinho, o meu coração tão só, basta eu encontrar você no caminho".
Até encontrar, meio esquecido entre outros tantos, um des para mandá-los todos embora. Despedida.
Junto com ele vem um des meio triste, mas muito bonito. Desilusão. Que é um clarão abrindo espaços para a realidade.
Ai percebe que o desconforto, que é um comichão chato, pode ser melhorado mudando de posição. Fica descalço.
Descobre que quer voltar a caminhar, e segue buscando caminhos desimpedidos.
Rumo ao desconhecido.
"Para desentristecer, leãozinho, o meu coração tão só, basta eu encontrar você no caminho".
Friday, March 25, 2011
Carinho.
Doam a mão e os pés
e se preciso o piso que pisam
quando o podem, quando é possível.
Com o impossível, improvisam.
Assim são os bons amigos
mas com certeza, o que há neles
de mais querido, é o sorriso.
e se preciso o piso que pisam
quando o podem, quando é possível.
Com o impossível, improvisam.
Assim são os bons amigos
mas com certeza, o que há neles
de mais querido, é o sorriso.
Friday, March 18, 2011
Mana.
"Panela ou colher?", a voz vem lá de dentro e chega antes dela, com as duas em mãos. Após o tradicional instante de dúvida, escolho a panela, já resignada com a tarefa de raspar na teimosia o doce quase inexistente. Uma provinha e endurece tudo, lá vou eu requentar a panela pra continuar a raspar.
Panela quente, semilimpa, pego o rumo da pia, encho-a de água e volto ao fogão. Tanto trabalho apenas pra simplificar a lavagem da louça, mais tarde, depois de dar conta da tigelinha com a parte que me cabe. Tudo assim, divididinho. Hoje ela cozinha e eu lavo, e nos duas comemos, cada uma em sua tigela, cada uma preenchendo um canto da casa.
Aqui é assim, desde sempre, as coisas todas compartilhadas, em nome da inteireza do afeto.
Isso até ela terminar a parte dela e vir meter o dedo no meu brigadeiro.
Panela quente, semilimpa, pego o rumo da pia, encho-a de água e volto ao fogão. Tanto trabalho apenas pra simplificar a lavagem da louça, mais tarde, depois de dar conta da tigelinha com a parte que me cabe. Tudo assim, divididinho. Hoje ela cozinha e eu lavo, e nos duas comemos, cada uma em sua tigela, cada uma preenchendo um canto da casa.
Aqui é assim, desde sempre, as coisas todas compartilhadas, em nome da inteireza do afeto.
Isso até ela terminar a parte dela e vir meter o dedo no meu brigadeiro.
Monday, March 14, 2011
Temperança.
Não fosse a poeira e a idade pesando nas faces, seria possível pensar que ali o tempo não havia passado. A casa se desdobra em quartos e mais quartos usados apenas em visitas ocasionais - são filhos e netos reencontrando-se em lembranças, em objetos esquecidos e fotografias antigas.
É instigante tentar reconhecer o que ainda é o mesmo. Há uma lâmpada queimada desde o Natal passado e uma galinha que até engana - poderia estar ali há séculos, tamanha é a parecença com as antecessoras habitantes do galinheiro improvisado.
Ainda assim, quatro da tarde, avó e neta sentadas no sofá da sala trocando causos e histórias, os azuis do olhar de uma passeando pelos da outra com vigor e graça, é compreensivel confundir, por alguns instantes, moça com anciã.
É instigante tentar reconhecer o que ainda é o mesmo. Há uma lâmpada queimada desde o Natal passado e uma galinha que até engana - poderia estar ali há séculos, tamanha é a parecença com as antecessoras habitantes do galinheiro improvisado.
Ainda assim, quatro da tarde, avó e neta sentadas no sofá da sala trocando causos e histórias, os azuis do olhar de uma passeando pelos da outra com vigor e graça, é compreensivel confundir, por alguns instantes, moça com anciã.
Saturday, March 12, 2011
Vôo.
Existiu um tempo em que quis muito saber dançar pra receber música com cada pequena parte do meu corpo. Procurava em vão movimentos que me habitassem por completo em obediência fiel a cada novo som.
Às vezes ainda procuro, pelas noites, pelas antigas canções.
Mas há dias em que apenas sinto, sinto uma música que é mais sentimento que gesto, que me faz esquecer o mundo e o tempo ao ponto de, aqui ou aculá, um olhar desperto, um violino, um all star surpreender dancinhas muito minhas. Desajeitadas, descompassadas e, ainda assim, imensamente alegres.
Às vezes ainda procuro, pelas noites, pelas antigas canções.
Mas há dias em que apenas sinto, sinto uma música que é mais sentimento que gesto, que me faz esquecer o mundo e o tempo ao ponto de, aqui ou aculá, um olhar desperto, um violino, um all star surpreender dancinhas muito minhas. Desajeitadas, descompassadas e, ainda assim, imensamente alegres.
Friday, March 11, 2011
Refazenda.
Quando eu era pequena amava tanto a chuva que sempre a trazia pra dentro de casa. Primeiro nos pés e roupas molhadas, depois nas janelas do quarto transgressoramente abertas. Um dia conheci as palavras, e a chuva veio chover nos meus primeiros versos.
Agora gripamos feito crianças, dessas que precisam de mil cuidados. Mil carinhos pra que o tempo e a chuva passem logo, que voltem as cores do céu, e que eu reencontre um pôr-do-sol pequeno, mas muito bonito, entre os pedaços de concreto que me invadem da janela. E tem chovido tanto que chego a esquecer como é bonito em sons, cores, sensações, sentimentos, significados e imensidões todo esse temporal lá fora e dentro de mim.
Agora gripamos feito crianças, dessas que precisam de mil cuidados. Mil carinhos pra que o tempo e a chuva passem logo, que voltem as cores do céu, e que eu reencontre um pôr-do-sol pequeno, mas muito bonito, entre os pedaços de concreto que me invadem da janela. E tem chovido tanto que chego a esquecer como é bonito em sons, cores, sensações, sentimentos, significados e imensidões todo esse temporal lá fora e dentro de mim.
Tuesday, March 08, 2011
Monday, February 28, 2011
Sabedoria.
Quando o Uirapuru canta
toda a floresta pára
quieta, calada
natureza escuta natureza encanta.
toda a floresta pára
quieta, calada
natureza escuta natureza encanta.
Thursday, February 17, 2011
Thursday, February 10, 2011
Compasso.
Para cada novo disparo
há um sentir o caminho
visão de uma vasta estrada
sonho composto ao som
do sopro suave da flauta
guiando passos pelo tempo
que marca mais um começo
sem certezas de destino
além da fé na caminhada.
há um sentir o caminho
visão de uma vasta estrada
sonho composto ao som
do sopro suave da flauta
guiando passos pelo tempo
que marca mais um começo
sem certezas de destino
além da fé na caminhada.
Friday, January 28, 2011
Amor.
Para compreender como é possivel encontrar tanta beleza em cantos que conhecem tanta guerra, como consigo estar no céu mesmo de dentro do meu pequeno quarto cubicular. Como os homens passam pela história e a história passa pelos homens, vaga-lumes no firmamento da memória. Como meu café preto puro simples tem o sabor da alegria mais leve, como música antiga pode ser a companhia mais presente. Compreender que não é preciso compreender tudo para sentir e saber.
Amar e mudar as coisas me interessa mais.
Amar e mudar as coisas me interessa mais.
Monday, January 24, 2011
Grito.
Grave instante
chega grande
bate em cheio
e do meu peito
se espande
tão ligeiro
que vou junto
sem receios
até sermos
som e eu
contínuo pulso
do mundo.
chega grande
bate em cheio
e do meu peito
se espande
tão ligeiro
que vou junto
sem receios
até sermos
som e eu
contínuo pulso
do mundo.
Monday, January 17, 2011
Princípio.
Reconhecer novos sentidos nas mesmas coisas
viver novas coisas com antigos sentidos
renovar sempre as coisas, sentidos e destinos.
Eis um bom caminho.
viver novas coisas com antigos sentidos
renovar sempre as coisas, sentidos e destinos.
Eis um bom caminho.
Saturday, January 08, 2011
Estrada
O ano terminava e éramos uma família viajando, Cento e cinquenta e oito anos compartimentados em um pequeno veículo, livros, amigos, redes e chocolates na bagagem, música por todo o caminho, presentes e bons pensamentos de natal. Parece pequeno, apertado, desmovimentado. Não é. É que quando estamos assim, estradeiros, os destinos de ida e de volta todos verdes, a boa vista à frente e pelo retrovisor, o sentimento viaja e compreende todo o mundo. O mundo além de tempos e distâncias. Felicidade adiante, alegria no retrovisor. O ano começa e somos uma família viajando.
Friday, December 24, 2010
Dezembro.
Pensei em perguntar que instantes tão bonitos correspondiam ao pão de creme que te fez comentar que comia lembranças. Um dia talvez você me conte, talvez não. Um dia talvez você me conte as coisinhas que tanto guarda de mim em tom de mistério, talvez não. Fato é que sua presença em si já é das coisas mais misteriosas: a gente passa a noite em um lugar que consegue ser restaurante, padaria e mercado, ao mesmo tempo. Junto a mil opiniões novas e antigas, suspiros que devem conter mais algumas lembranças, causos e pessoas intercaladas entre as mil horas de conversa. Até que a noite passe por nós e o dia nos encontre em uma padaria legal pra tomar o café da manhã antes de você me comprar o jornal e meus confeitos preferidos e nos despedirmos com um singelo 'feliz natal'. Misterioso como somos uma manhã de natal, e ainda o seriamos se fosse agosto. Misterioso descobrir que isso me faz mais feliz do que pensei que conseguiria ser.
Sunday, December 19, 2010
Saturday, December 18, 2010
Dezembro.
Para deixar ir.
Observo sua mala vazia enquanto você tenta decidir o que deve pôr nela. Observo enquanto empreende os maiores esforços para compactar objetos, de modo que caibam nela o banco de jardim da casa antiga, a luminária verde que nos saúda da entrada do sítio de amigos e os figurinos de todas as apresentações teatrais - devidamente compreendidos nesse grupo o chapéu coco e os legumes de plástico. Desejo inutilmente que você encontre em tão pequeno compartimento espaços para as minhas palavras não ditas e as aproximações não realizadas. Passeio o olhar pela casa tentando descobrir o quanto da casa se vai com você e nesse instante percebo que sua concentração é tamanha que basta que você a leve, e mais nada, para ir completo. Ficamos eu, a mala, a casa, a lembrança, meio desabitados de você, meio carregados na sua concentração.
Observo sua mala vazia enquanto você tenta decidir o que deve pôr nela. Observo enquanto empreende os maiores esforços para compactar objetos, de modo que caibam nela o banco de jardim da casa antiga, a luminária verde que nos saúda da entrada do sítio de amigos e os figurinos de todas as apresentações teatrais - devidamente compreendidos nesse grupo o chapéu coco e os legumes de plástico. Desejo inutilmente que você encontre em tão pequeno compartimento espaços para as minhas palavras não ditas e as aproximações não realizadas. Passeio o olhar pela casa tentando descobrir o quanto da casa se vai com você e nesse instante percebo que sua concentração é tamanha que basta que você a leve, e mais nada, para ir completo. Ficamos eu, a mala, a casa, a lembrança, meio desabitados de você, meio carregados na sua concentração.
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