Friday, December 24, 2010

Dezembro.

Pensei em perguntar que instantes tão bonitos correspondiam ao pão de creme que te fez comentar que comia lembranças. Um dia talvez você me conte, talvez não. Um dia talvez você me conte as coisinhas que tanto guarda de mim em tom de mistério, talvez não. Fato é que sua presença em si já é das coisas mais misteriosas: a gente passa a noite em um lugar que consegue ser restaurante, padaria e mercado, ao mesmo tempo. Junto a mil opiniões novas e antigas, suspiros que devem conter mais algumas lembranças, causos e pessoas intercaladas entre as mil horas de conversa. Até que a noite passe por nós e o dia nos encontre em uma padaria legal pra tomar o café da manhã antes de você me comprar o jornal e meus confeitos preferidos e nos despedirmos com um singelo 'feliz natal'. Misterioso como somos uma manhã de natal, e ainda o seriamos se fosse agosto. Misterioso descobrir que isso me faz mais feliz do que pensei que conseguiria ser.

Sunday, December 19, 2010

Dezembro.

'É um mês abençoado.'
-É, é sim, é quando o tempo faz aniversário.

Dezembro.

Ahhhh meu Deus,
como a vida é boa.
Gratidão.
Amém!

Saturday, December 18, 2010

Dezembro.

Para deixar ir.
Observo sua mala vazia enquanto você tenta decidir o que deve pôr nela. Observo enquanto empreende os maiores esforços para compactar objetos, de modo que caibam nela o banco de jardim da casa antiga, a luminária verde que nos saúda da entrada do sítio de amigos e os figurinos de todas as apresentações teatrais - devidamente compreendidos nesse grupo o chapéu coco e os legumes de plástico. Desejo inutilmente que você encontre em tão pequeno compartimento espaços para as minhas palavras não ditas e as aproximações não realizadas. Passeio o olhar pela casa tentando descobrir o quanto da casa se vai com você e nesse instante percebo que sua concentração é tamanha que basta que você a leve, e mais nada, para ir completo. Ficamos eu, a mala, a casa, a lembrança, meio desabitados de você, meio carregados na sua concentração.

Wednesday, December 15, 2010

Dezembro.

"Despreocupa-se e pensa no essencial"

Friday, December 10, 2010

Dezembro.

Começa o ano em mim. Como mamãe ensinou, de manhãnsinha entrego ao sol o que não agrada, recebo dele as cores do dia, meu corpo cora. Para o ano que chega, limpído claro puro simples, água no meu rosto, flores pela casa, para a alma, canções.
Busco em mim os sinais do tempo. Encontro tamanhos e espaços no mundo que muito me encantam. E se por um instante uma sombra acinzenta o olhar, se dor, felicidade e incerteza se confundem na memória. Os amigos por perto, o riso solto, o afeto e o afago transcendem quaisquers desventuras: beleza e alegria compõem o tempo em nós.
Dez de dezembro de dois mil e dez para um ano bom.

Monday, December 06, 2010

Dezembro.

Em tempo de breu e brasa,
venha vento e alvorada.
Retornando a calmaria,
cor, coração, alegria.

Valsa para as madrugadas
samba para amanhecer o dia.
Algodoar para o tato
força no trato da terra
ternura sincera no olhar.

Ar para mergulhar
ao mais profundo mar de si
e ao voltar, vastidão.
Levantar vôo e ser
também, céu azul.

Thursday, December 02, 2010

Dezembro.

Trago comigo algumas estrelas. No nome, nos olhos, na pele. Busco estrelas, sua presença, seus significados e sentidos, os caminhos que indicam. Carrego estrelas e confirmo: feliz é escolher, acolher e viver o que me escolheu.

Wednesday, December 01, 2010

Dezembro.

'Você metade gente
e metade cavalo
Durante o fim do ano
cruza o planetário

Cavalga elegância
Cabeça em pé de guerra mansa
Nas mãos arco e flecha
Meu coração
Aguarda e acompanha
seu itinerário
Até o fim do ano
ser de sagitário

Você metade gente
e metade cavalo'

Thursday, November 25, 2010

Imensidão.

Cabe tanto na gente, tanto tempo, tanta idéia de ir a marte e voltar, tanto pássaro na garganta, vento no cabelo, vôo no olhar. Que chega a ser estranho a gente terminar cabendo num instante, em pensamento, em um potinho que mamãe sonha em guardar na estante ou em uma 3x4 pregada em um documento que a gente mostra ao seu guarda pra dizer que é gente. Como se sorrir não mostrasse quanta vida cabe em nós, como se sorrir não bastasse.

Hasta luego.

Fato é que as mais diversas e ritualisticas formas de dizer adeus só dizem o quanto não queremos ir. O ritual mais querido ainda não inventamos: magia para o sem fim. Nem sei se é mesmo preciso. O adeus no mundo não despede em mim.

Wednesday, November 24, 2010

Mil tons

"Nada de novo no meu mundo
e o sol a cada dia
na noite a escuridão
Tudo de novo no meu mundo
comigo eu carego
beleza e canção"

Friday, November 19, 2010

Estou indo.

Todo dia me despeço um pouquinho de mim mesma, é ritual sem fim. E se vão comigo tantos desesperos e desamparos que se faz preciso fincar os pés no chão, respirar profundo e dizer adeus. Depois disso é acolher o vazio. É se reinventar para o que há de vir. Bem-te-vi, bem-te-vem.

Sunday, November 14, 2010

Ar te.

Chego da aula carregando o mundo e, ao mesmo tempo, leve feito algodão doce. Um olhar breve revela meu joelho todo cheio de pintinhas roxas, hematomas nos mais diversos tamanhos e tons. Mil memórias de desacertos bobos ou não e mil perdões por cada um deles. Graças e risadas. Medo, desejo e dor. Tantas incertezas que não cabem em mim e dentro delas uma vontade infinita de aprender.
Escrever é estar em casa. preciso e amo. Teatrar é tatear um canto novo a cada instante, é conhecer, descobrir, desbravar e, algumas vezes, consquistar mil mundos dentro e fora de mim. Preciso e amo.

Friday, November 12, 2010

Praticidade.

Depois da segunda vez em que procurou maçãs e só encontrou tomates, que comeu assim mesmo, feito fruta madura, resolveu-se: plantou no quintal mil macieiras e, pro caso de quaisquer saudosismos, um ou dois tomateiros.

Sinceramente,

Eu conheço a dor e não quero mais.
Eu conheço o amor e não quero menos.

Hoje

Você faz aniversário e celebramos a sua vida e a vida e o tempo de toda a nossa gente, da nossa família. A casa se enche, cada vez mais, sempre mais, de flores e sorrisos. Meu coração é só alegria.

Saturday, November 06, 2010

Encanto.

Escolhi pra você uma música conhecida. De modo que você pode estar no som da boca de muitos, que podem te colorir com os mais diversos tons. E você pode vir com os ritmos e vozes mais bonitos. E não seria tão estranho te ouvir chegar dos cantos mais remotos e ecoar nas maiores distâncias.
Mas o que realmente me desconcerta e surpreende é te encontrar, cada vez mais, nos meus silêncios.

Tuesday, November 02, 2010

Quotidiano.

Os tambores ressoam no estalar dos meus dedos. O companheiro traduz mil vozes de comando em um altivo toque de corneta. Avante. Descemos a rampa cheios de cadência e pompa. Valem pequenas travessuras. Beliscãosinho lá atrás. Sonoplastia de pararatibum. Chegamos. Faço um aceno com a baqueta e num instante meu tambor é bateria acompanhada pelo mais entusiasmado guitarrista. Tocamos os hits do momento. A multidão vibra. Continuamos o espetáculo, caminhando.

Lero Lero.

-Oi, eu amo você.
-Ahh, também amo você.
-E o Oi.
-O quê?
-Você esqueceu o Oi.
-Ahhh, Oi.
-Oi.
-Oi.
-...

Monday, November 01, 2010

Ponte

O ir e vir
do teu olhar
de tanto passar
por meu olhar
há de encontrar
o mar.

Saturday, October 30, 2010

Compreendes?

Quando eu que amo tanto as palavras já deixei há muito que elas me escapassem, ainda assim te digo em mil idiomas, para além dos que ditam todas as convenções sobre dizer e desdizer as coisas, dizem meus gestos e olhares e até mesmo meus silêncios, que o quero mesmo, hoje e sempre, é hacer ser feliz nos nossos sorrisos. Compreendes?

Wednesday, October 27, 2010

Ritmo.

Dia desses eu brincava com um relógio de parede de cozinha, modesto, leve e branco, como todos os bons relógios de cozinha. O moço passou, olhou, metaforizou e pediu que, por favor, atirasse logo aquilo pela janela - simples assim, como quando eu era criança e gostava de jogar copos janela abaixo. Idéia tentadora, vontade nostálgica. Mas o caso é que a quebra não me parece destino possível ao maior e mais misterioso definidor de destinos. Tempo.
O relógio continua aqui, comigo. É o movimento dos ponteiros, é o som dos meus passos, dos meus dedos no teclado. É o som da cidade e o som do silêncio, é a presença permanente de um tempo que nunca é o mesmo. É o tempo em mim. Marcado, constante, ritimado e, sempre, novo.

Tudo.

O mundo da lua
a lua do mundo
a gente na lua
na rua, no batuque
no mundo da lua
vendo a lua do mundo
se movimentar no céu
se movimentar em nós.

Friday, October 22, 2010

Tempo.

Ouvi dizer que o dia em que você mais riu na vida foi aquele em que caimos da rede. Não lembro de ter caido nem o porquê de ter caido, mas saber disso faz pensar sobre quando na infância se sabe e quando se desaprende a valiosa lição: rir de si mesma. Não faço idéia, sei apenas que estou, sempre, reaprendendo.

Monday, October 18, 2010

Recanto.

Fomos felizes aqui.
Somos felizes aqui.
Seremos felizes aqui.

Thursday, October 14, 2010

Compasso.

Por necessidade ou vontade, as vezes acontecia de sair inventando palavras. Foi assim quando quis que meninos tocando tambores guiassem e seguissem seus passos. Inventou a palavra tamboreiros, e então tinha vaga-lumes de silêncio e som em todos os caminhos.

Monday, October 11, 2010

. De encontro

Se dentro e fora
é turbilhão
só movimento
sem sentido,
sem direção
busco o bálsamo
da palavra
e sou então
simples e apenas
concentração.

Sunday, October 10, 2010

História

Quis a lembrança do início das coisas,
mas que memória guarda o princípio
daquilo que parece começar antes de nós,
antes da palavra princípio?

Procurou então, no meio do caminho
reinventar o verso, a flor, a cor.
Aprendeu no amor um novo destino
sem começo, meio, desfecho.
infinito

Wednesday, October 06, 2010

Na condução.

"É, pra morrer basta tá vivo".

-Sim senhora, e pra viver também.

Setenta e cinco.

'E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor prá recomeçar
Prá recomeçar...'

Tuesday, October 05, 2010

Trilhares.

Meu coração quer acompanhar meus pés pela cidade, conhecer as ruas e avenidas e os rostos das pessoas que passam por elas e que passam e ficam por mim.
Meu coração quer meu corpo forte, capaz de conviver com o sol a pino e de encontrar o caminho da sombra e a sombra no caminho. Quer ser capaz de suportar tantos pesos quanto for preciso e de, quando possível, deixá-los ir.
Meu coração é a busca do mundo e um mundo para buscas, é andarilho e é passagem e porto seguro para o que há de vir.

Monday, October 04, 2010

Essa leveza

Há de nos levar além.

Presença.

"Eu acho tão bonito isso
de ser abstrato, baby.
A beleza é mesmo tão fugaz."

Terral.

"Se chovesse no sertão,
o Ceará seria o céu."

Friday, October 01, 2010

Continuar.

Olha, eu sei que não devo reclamar, que herdei de mim mesma esse otimismo quase patético, essa capacidade quase irremediável de acreditar, essa certeza quase inabalável de que existe um destino bom para todas as coisas, eu sei que não devo reclamar mas é uma sexta feira cansada e essa alergia não me dá tregua desde segunda, e a torneira da cozinha pingando me gela até os ossos, e esqueci outra vez de tomar meu chá antes que ele esfriasse, e o que mais me dói é que eu sei que não devo reclamar porque apesar de tudo minhas agonias pedem apenas uns poucos sorrisos, e trazem consigo uma certeza maior. É não passar pela vida sem acontecer.

Thursday, September 30, 2010

Sol de primavera.

Você ocupa meu quarto como quem não se importa que ele tenha dono, presença ou sapato espalhado pelo chão, e te encontrar nele é me sentir em casa.
E percebo que não te amo mais apenas com o amor infantil que partilhava o berço e quebrava seus brinquedos por ainda não saber brincar. Eu te amei antes mesmo de saber o que era amar. Agora a gente aprende, e nosso amor vive a graça de crescer com a gente, entre coisas grandes e coisinhas, coisas de mulhersinha, piadas bobas, seu chegar em casa as quatro da matina querendo discutir política, os cafés com bossa aos domingos, sua campanha pela economia de elis no reveion e os nossos novos trajetos pela casa, se esbarrando menos, se encontrando mais, se amando mais. Te amo mais.
Se renova o tempo em ti, se renova em ti meu bem querer.

Tuesday, September 28, 2010

Lembrança.

De um domingo.

Acordei com a estranha e suave sensação,
tal qual visão de antigas sabedorias,
de que estrelas e planetas
e os caminhos que percorrem no universo dentro e fora de mim,
entram agora em favorável conjunção.


Lembrei do dia em que te conheci.


Foto: Heraldo, Oriente Médio.